A
energia elétrica por fonte nuclear é obtida a partir do calor da
reação do combustível (urânio) utilizando o
princípio básico de funcionamento de uma usina térmica
convencional, que é sempre igual; a queima do combustível produz
calor, esse ferve a água de uma caldeira transformando-a
Para
entendermos o que vem a ser energia liberada na reação nuclear,
é preciso saber um pouco mais sobre o átomo.
Os
átomos são mais leves ou mais pesados, dependendo do
número de partículas que se constituem. O mais leve que se
conhece é o do hidrogênio e o mais pesado o do urânio.
Um
átomo é composto por um núcleo e por partículas
menores que gravitam em torno desse núcleo. Essas partículas se
chamam elétrons, são muito leves e têm carga
elétrica negativa. Dentro do núcleo, há dois tipos de
partículas, chamadas prótons e nêutrons. O número de
prótons é sempre igual ao número dos elétrons.
Quanto aos nêutrons, variam em número sendo mais numerosos quanto mais pesado for o átomo. Eles
não possuem carga elétrica
Embora
sabendo que tudo que existe na natureza é formado por átomos,
trataremos apenas dos átomos do elemento chamado urânio.
No
urânio presente na natureza são encontrados átomos, que
têm em seu núcleo 92 prótons e 143 nêutrons (cuja
soma dá 235), átomos com 92 prótons e 142 nêutrons
(234) e outros ainda, com 92 prótons e 146 nêutrons (238). Como os
prótons e elétrons são em número igual (92),
podemos dizer que esses átomos são quimicamente iguais e os
chamaremos de isótopos do mesmo elemento, isto é, do
urânio. Para diferenciá-los, usa-se o símbolo químico
de elemento e um número, de acordo com seu peso atômico –
Isótopo, - Isótopo e - Isótopo.
O
choque de um nêutron livre com o isótopo causa a
divisão do núcleo desse isótopo em duas partes -dois
outros átomos - e ocasiona uma liberação relativamente
alta de energia. Dá-se a esse fenômeno o nome de fissão
nuclear. (foto)
A
fissão nuclear ocasiona a transformação da matéria
em energia, através da divisão do isótopo .
Por que o e não o ou o ?
Quando
a fissão do isótopo ocorre, o
núcleo divide-se em duas partes formando dois elementos novos, e dele se
desprendem 2 ou 3 nêutrons que, por seu turno,
podem chocar-se com outro núcleo de acarretando nova
fissão, novos elementos são formados, provocando uma
seqüência de fissões denominada reação nuclear
O aproveitamento e controle dessa
energia liberada é feito dentro de reatores nucleares, que nas
usinas nucleares, fazem o mesmo papel que a caldeira desempenha nas usinas
térmicas comuns.
A
fim de otimizar as reações nucleares
costuma-se enriquecer o urânio antes do seu uso nos reatores. Esta
operação consiste simplesmente em aumentar o teor do
Isótopo (o único
que se fissiona) na mistura de isótopos do urânio natural (, e ).
O
ciclo do Combustível
O
Ciclo do Combustível Nuclear é o conjunto de etapas do processo
industrial que transforma o mineral urânio, desde quando ele é
encontrado em estado natural até sua utilização como
combustível, dentro de uma usina nuclear. A energia nuclear, como seu
homólogo fóssil, é extraído de
jazidas naturais, transformado e enviado à central para produzir
energia.
Mineração e
Produção de Concentrado de Urânio ( U3O8
)
O
elemento químico Urânio é um metal branco-níquel,
pouco menos duro que o aço e encontra-se, em estado natural, nas rochas
da crosta terrestre. (foto : Industrias Nucleares Brasileiras –INB- )
Sua
principal aplicação comercial é na geração
de energia elétrica, na qualidade de combustível para reatores
nucleares. É também utilizado na produção de material
radioativo para uso na medicina, na produção de armas e na
agricultura.
A
extração do mineral de urânio segue as técnicas
correntes de mineração. O processo de beneficiamento do
minério de urânio é o de lixiviação em pilhas
(estática). Depois de britado, o minério é disposto em
pilhas e irrigado com ácido sulfúrico e bióxido de
manganês para colocar o urânio
O produto final é um concentrado
de urânio, o U3O8,
sob a forma de um sal de cor amarela, conhecido como "yellowcake", (foto: Industrias
Nucleares Brasileiras –INB- )
matéria prima para produção da energia gerada em um reator
nuclear.
Para ser usado em reatores, o
urânio natural (0.7% de e 99.3% de ) deve ser enriquecido no isótopo físsil. A principal
finalidade comercial do urânio é a geração de
energia elétrica mas é muito usado na indústria bélica.
Quando transformado em metal, o urânio torna-se mais pesado que o chumbo,
pouco menos duro que o aço e se incendeia com muita facilidade. O
urânio empobrecido ( ou DU de "depleted uran") é 2,5 % mais denso que o aço e
1,7% mais denso que o chumbo. O urânio, que possui 92 prótons no
núcleo, existe na natureza na forma de 3
isótopos: , com 142 nêutrons (em quantidade desprezível); , com 143 nêutrons, após enriquecido.
Os processos de enriquecimento mais
empregados são o da Difusão Gasosa e o
Ultracentrifugação.
Difusão
gasosa - as
moléculas de UF6 contendo átomos de são mais leves
e se deslocam mais facilmente que as contendo .
Estatisticamente, as primeiras têm uma maior probabilidade de atravessar
uma membrana porosa. O UF6 de
composição natural é inserido no meio da cascata de
barreiras de difusão: nas duas extremidades recolhem-se urânio
enriquecido e urânio empobrecido. Em função da
concentração de a
instalação é vultuosa, acrescida
de dificuldade tecnológica das barreiras que devem ter poros uniformes
com raios entre 150 e 250 Å. O UF6, por outro lado, é de
utilização industrial bastante difícil. É
tóxico, corrosivo e em presença de umidade forma facilmente
oxifluoretos, ácidos fluorídricos e fluoreto de urânio, que
tendem a entupir os poros. Além disso, nas condições
normais, sublima, o que torna necessário o seu
uso a pressão e temperaturas baixas. Apesar do fator teórico de
separação de um estagio para outro ser de 1.003, na
prática somente se consegue da ordem de 1.002, o que aumenta consideravelmente
o número de passagem de estágios. Para a
produção de 1Kg de urânio
enriquecido é necessário assegurar a difusão de
várias centenas ou até mesmo milhares de toneladas de UF6
através das cascatas. Destas, a maioria se encontra na fase inicial. A
colocação em regime de cascata será da ordem de meses
Ultracentrifugação -
Este método mecânico se mostrou eficiente para separar o
isótopo de do . A taxa de conversão é da ordem de 500 partes
de minério para se obter uma parte de metal. Desta parte, mais de 99%
é de , sem finalidade na indústria nuclear. Em termos simples, a ultracentrífuga segue o mesmo
princípio das centrífugas domésticas, usadas para preparar
alimentos: propicia a separação do material de maior peso, que
é jogado para a parede do recipiente, daquele de menor peso, que fica
mais concentrado no centro. No processo chamado de enriquecimento acontece algo
semelhante. O é apenas ligeiramente mais leve
que o , adiciona-se flúor ao
metal, formando o gás hexafluoreto de urânio. Para o
combustível nuclear interessa apenas o isótopo 235, que é
físsil. E como no urânio natural há uma quantidade muito
pequena de , é preciso fazer essa
separação, ou aumentar a concentração do
urânio físsil. Dentro da centrífuga, o isótopo de tende a concentrar-se mais no centro, e o
fica mais próximo à parede
do cilindro. Duas tubulações de saída recolhem o urânio,
sendo que numa delas segue o urânio que tiver maior
concentração de isótopos 235 (urânio enriquecido), e
na outra, o que tiver mais 238 (chamado de subproduto).Dessa
centrífuga o urânio é repassado para outra
centrífuga e assim por diante, num processo
(fotos :Industrias Nucleares Brasileiras –INB- )
Físsil: Normalmente, uma amostra natural de
urânio contém cerca de 99,3% de , não fissionável, e cerca de 0,7% de , fissionável. Como o é um bom
absorvedor de nêutrons com energias cinéticas de cerca de 5 eV, ele tende a absorver os nêutrons produzidos na
fissão do e se constitui,
portanto, em um obstáculo à reação
Outro material
fissionável é o plutônio 239, que também se fissiona
como o por captura de um
nêutron lento (térmico). O plutônio 239 não existe na
natureza mas, pode ser produzido num reator nuclear
por um processo baseado nas seguintes reações:
238U92 + n ---> [ 239U92 ] ---> 239Np93
+ e- + n* + g
239Np93
---> 239Pu94 + e- + n* + g
Nêutrons com energias
cinéticas de cerca de 1 MeV, resultantes de
fissões de núcleos de em reatores
nucleares, são freados até terem energias cinéticas de
cerca de 5 eV. Com tais energias, os nêutrons são absorvidos por
núcleos de que, então,
se transformam em núcleos de urânio 239, altamente
instáveis. Estes núcleos de urânio 239, por decaimento β-,
se transformam em núcleos de neptúnio 239. Os núcleos de
neptúnio 239 são radioativos e com uma meia vida de 2,3 dias se
transformam em núcleos de plutônio 239 também por
decaimento β-. Esse processo é o responsável, em certos
reatores nucleares, pela produção de grandes quantidades de
plutônio. O plutônio 239 sofre decaimento α com uma meia vida
de cerca de 25.000 anos (e por isso pode ser útil como material
fissionável):
239Pu94
---> 235U92 + 4He2
É muito
difícil a separação do do numa amostra
natural de urânio porque eles têm propriedades químicas
semelhantes. Contudo, quando núcleos de absorvem
nêutrons, eles se transformam em núcleos de plutônio 239, de
modo que a amostra original passa a conter também esse elemento. A
separação do plutônio do urânio é mais
fácil porque eles têm propriedades químicas diferentes.
Uma última
observação. O urânio tem número atômico Z =
92. Qualquer elemento com Z > 92 é chamado transurânico. O
netúnio e o plutônio são elementos transurânicos.
Existem outros elementos transurânicos e todos são radioativos e
artificiais.
Industria Bélica: Sabemos que quando um núcleo
sofre fissão, ele se divide em dois fragmentos e vários
nêutrons. Se cada um desses nêutrons for capturado por um outro
núcleo físsil, o processo continua e o resultado é uma
reação em cadeia de reações, na qual a
fissão súbita de muitos núcleos e a
liberação resultante de muitos núcleos e a
liberação resultante de enorme quantidade de energia produz uma explosão nuclear . Na bomba atômica (nome
não muito descritivo) uma certa quantidade de massa crítica, de
nuclídeos físseis é repentinamente acionada pelo mecanismo
da bomba e resulta na explosão nuclear. Se a massa for menor que a massa
crítica, muitos nêutrons se perderão e a reação
em cadeia não se sustentará. Uma maneira de disparar a bomba
consiste em usar uma explosão química para ativar duas massas
subcríticas separadas, contendo material físsil em ambas, e assim
a massa crítica poderá ser atingida. e plutônio 239 foram ambos
usados em armas nucleares. O plutônio 239 é produzido pelo
bombardeio de urânio 238, o isótopo mais comum do urânio,
com nêutrons. O urânio 239 se desintegra em neptúnio 239 que
se desintegra em plutônio 239.
Pastilhas-Combustíveis: Duas
pastilhas de urânio produzem energia suficiente para atender, por um
mês, uma residência média em que vivam quatro pessoas. Estas
pastilhas de dióxido de urânio (UO2), que tem a forma de um
cilindro de mais ou menos um centímetro de comprimento e de
diâmetro, após serem submetidas a diversos testes - dimensionais, metalográficos e químicos -
estarão aptas a compor o Elemento Combustível.
Elemento Combustível: O
elemento combustível é um conjunto de 235 varetas
combustíveis - fabricadas em zircaloy - rigidamente posicionadas em uma
estrutura metálica, formada por grades espaçadoras; 21
tubos-guias e dois bocais, um inferior e outro superior (foto: Industrias Nucleares
Brasileiras –INB- ). Nos tubos-guias são
inseridas as barras de controle da reação nuclear. Antes de serem
unidas a estes tubos por solda eletrônica, as grades espaçadoras
são alinhadas por equipamentos de alta precisão. A solda das
extremidades das varetas se dá em atmosfera de gás inerte e sua
qualidade é verificada por raios-X. As pastilhas de urânio, antes
de serem inseridas nas varetas combustíveis, são pesadas e
arrumadas em carregadores e secadas em forno especiais. Simultaneamente, os
tubos de zircaloy têm suas medidas conferidas por testes de ultra-som e
são minuciosamente limpos. Só então as pastilhas são
acomodadas dentro das varetas sob a pressão de uma mola afastada do
urânio através de isolantes térmicos de óxidos de
alumínio.
Um elemento combustível supre de
energia 42.000 residências médias durante um mês.