Um dos sistemas mais complexos que se conhece é o clima. A sua imprevisibilidade só começou a ser verdadeiramente entendida em 1961, quando Edward Lorenz observou um fenómeno extraordinário. Lorenz estava a trabalhar num modelo informático de previsão meteorológica, baseado em doze equações diferenciais, na demanda histórica de vislumbrar a ordem nas alterações climatéricas. Naquele momento, analisava uma sequência num longo período de tempo, após introduzir os parâmetros iniciais. Ao repetir a sequência, deparou-se com um resultado dramaticamente diferente. Reparou então que, da segunda vez, tinha arredondado um dos números introduzidos, que era 0,506127, para 0,506. Uma diferença da ordem dos décimos de milésimo percentuais acabava de se revelar catastrófica no período de tempo estudado!

Dois anos depois, Lorenz descreve pela primeira as suas descobertas, mas estas só ganham notoriedade quando, em 1979, publica um artigo denominado Predictability: Does a flap of butterfly's wing in Brazil set off a tornado in Texas, donde ficaria célebre o conceito de efeito Borboleta. Se algo como o bater das minúsculas asas de uma borboleta no Brasil podia desencadear semanas depois um violento tornado no Texas, isso devia-se tão somente à extrema sensibilidade às condições iniciais de um sistema tão complexo como o clima. Lorenz tinha descoberto um sistema caótico.

O capricho de um único elétron, por exemplo, pode transformar um dia ensolarado em um dia de chuva. Ao acaso, durante um instante, um elétron deixa de exercer a atração gravitacional padrão nas moléculas do ar. Resulta disso uma pequeníssima alteração na trajetória dessas moléculas e elas passam a colidir umas com as outras de maneira ligeiramente distinta. A mudança provoca um desvio e evita a colisão plausível de duas moléculas. Essa movimentação anômala, combinada a um pouco de vento, gera uma turbulência e se propaga pela atmosfera.

Esse pequeno e fundamental evento, encadeado a outros, é capaz de modificar radicalmente o regime de ventos e a temperatura em uma vasta região. Passam-se as horas, e o encontro de massas de ar pode provocar uma forte chuva sobre áreas às quais, antes, se destinava a luz do sol. Um novo capricho de um eletronzinho pode, no entanto, interromper uma série de dias chuvosos e trazer de novo a alegria do bom tempo

Daqui vem a noção de elevada sensibilidade às condições iniciais, introduzida por Poincaré em 1908, que está relacionada com a existência de inúmeros equilíbrios instáveis e com a consequente complexidade de um sistema. Esta é definida pela complexidade do modelo necessário para prever o comportamento do sistema. Assim, quanto mais parecido com o sistema tiver de ser um modelo que permita determinar a sua evolução, ou quanto maior o número e complexidade das equações necessárias para o descrever, mais complexo é o sistema.

Na Matemática, a análise de dados caoticamente dispersos impulsionou a evolução do tratamento estatístico e da noção de probabilidade. Por outro lado, a geometria fractal aprofundou a ideia intuitiva de infinito.

Na Física, o conceito de Caos traz uma nova luz sobre a entropia, que mede também a complexidade de um sistema, e sobre os fundamentos da Mecânica Quântica, nomeadamente o Princípio de Incerteza de Heisenberg. A teoria do caos é algo recente e ainda está sendo refinada. Novas aplicações estão sendo descobertas ou inventadas, artigos continuam a ser publicados, dúvidas e demonstrações alternam-se rapidamente. Apesar disso, a teoria do caos lançou alguma luz no comportamento dos sistemas, sistemas quintessenciais de líquidos fluindo, os quais são propícios a sofrer mudanças rápidas de um comportamento estável para um comportamento aparentemente caótico, no modo como a água passa de líquido fixo a líquido em ebulição, à medida que a temperatura é ligeiramente aumentada. (A 99,5 °C, a água é apenas água quente; a 100,5 °C, ela passa a mudar de estado, tornando-se gasosa.) O jargão pode ser intimidante - coisas do tipo "estranhos atratores" são difíceis de explicar. (Eles são basicamente formas que restringem curvas não reprodutíveis, se é que isso ajuda.) E idéias tais como "dimensões fracionais" tendem a parecer bizarras ou inutilmente abstratas - mas na realidade a geometria fractal tem muitas aplicações práticas.

Na Astronomia, sabe-se há muito que o Sistema Solar não «funciona com a precisão de um relógio suíço». Poincaré foi o primeiro a demonstrar a dificuldade em determinar órbitas de astros a longo prazo (como já foi referido). Recentemente, revelou-se que essas órbitas (no estudo realizado, da Terra e de Marte) têm uma evolução caótica, num intervalo de tempo da ordem das centenas de milhões de anos.

Na Biologia, o Caos está a ser usado para identificar processos evolutivos que permitem um novo entendimento do algoritmo genético, simulações realistas de formas de vida artificiais e uma nova abordagem da actividade cerebral.

Na Medicina, descobertas recentes indicam que o coração bate a um ritmo fractal e que um batimento quase periódico é sintoma de insuficiência cardíaca.

No campo das Ciências Humanas e mesmo das Ciências Policiais, o Caos tem sido aplicado ao estudo do comportamento de multidões.

Na Economia, a análise das bolsas tem indicado que os valores das acções se comportam de forma aparentemente aleatória a curto prazo, mas que apresentam um certo padrão a médio e longo prazo. É de notar que, se olharmos para a evolução da bolsa no período de um mês, uma semana, um dia ou algumas horas, o gráfico não perde o seu detalhe, tal como um fractal. Em 1997, dois americanos ganharam o Prémio Nobel da Economia, após terem encontrado uma fórmula que permite prever aplicações financeiras.

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